Hoje publico aqui minha primeira resenha de livro, espero que aproveitem e busquem ele para ler.
AC
Os Três
Mosqueteiros, de Alexandre Dumas
O principal
motivo que me levou a tirar esse livro das estantes do sebo que frequento, além
da linda encadernação em ótimo estado de conservação de 1983, foi uma lembrança
e curiosidade antiga sobre a flor-de-lis. Sabia que a marcação a ferro desse
símbolo era um estigma de crime e que tinha uma personagem no romance que
sofria por causa dele, no meu mundinho de emoções eu quis conhecer tal nobre e
sofredora dama. Assim iniciei o que a principio foi um calvário, mas depois se
tornou muito prazeroso, me fazendo odiar e adorar os personagens.
Esse livro
sofre com uma piada antiga, onde se diz que os três mosqueteiros são quatro e
na realidade o personagem principal nem é mosqueteiro na maior parte do romance!
D’Artagnan é um jovem que sonha em se tornar mosqueteiro, para tanto sai da
cidade interiorana onde cresceu e com a ajuda de seu pai recebe um cavalo,
dinheiro e uma carta de indicação para um conhecido dele, o Sr. Tréville chefe
dos Mosqueteiros do Rei, que poderia encaminha-lo em Paris. Toda a narração
mostra as aventuras do jovem que acabam por se mostrar entrelaçadas com as
histórias das outras personas do livro.
O começo da
leitura me foi sofrida, a forma da escrita mais arcaica com referências históricas
e culturais, a folha fina e amarelada da edição e a falta de personagens para
gerar os diálogos profundos quase me fez abandonar o livro, mas esse é um
pecado terrível que só cometi uma vez e pretendo nunca mais repeti-lo. Conforme
vai avançando a história o nosso jovem herói, que no começo é puramente um
folgado brigão, passa a conhecer e firmar vínculo com os outros personagens evoluindo
moralmente e nós, leitores, passamos a acostumar com o palavreado de Dumas e
frases como essa não nós assustam mais.
“Com tal vade-mécum, viu-se d’Artagnan,
assim no moral como no físico, cópia exata do herói de Cervantes, ao qual com
tanta felicidade o comparamos quando o nosso dever de historiador nos compeliu
a debuxar-lhe o retrato.”
Antes de
partir para uma visão mais individualizada dos personagens principais todos
eles, sem exceção, possuem uma característica em comum: que é a evolução, eles
crescem e aprendem com seus erros. Outra característica marcante em vários deles
é a inocência e o cavalheirismo, virtudes essas que lhes permitiu passarem por
situações que só com um pouco de desconfiança iriam evitar e alterar
completamente o rumo da história ou que com uma atitude traiçoeira iriam deixar
de converter um possível inimigo em um poderoso aliado.
É visível a mudança
do gascão d’Artagnan que de jovem turrão que logo nas primeiras páginas já vai
contra os conselhos recebidos para fazer seu próprio caminho à homem feito que
aprende a esperar e seguir àqueles com mais experiência em determinados
assuntos, sem nunca deixar a coragem e a sinceridade de lado, uma de suas
marcas principais. Para fazer o par romântico do nosso herói temos a Sra.
Bonacieux, a dama de companhia mais fiel da Rainha Ana da Áustria. Constança
segue as ordens da monarca empenhando sua vida e é numa dessas missões que sua
história cruza diretamente com a de d’Artagnan, após ter suspeitado das
atitudes do marido, que por sinal é o senhorio do futuro mosqueteiro.
Muito
importantes na história são os três mosqueteiros, Athos, Porthos e Aramis, cada
qual com sua história individual marcante e importante para justificar as ações
tomadas por eles. Athos é visto como o mais nobre dos três, um general, um pai
que pune no momento da infração e abraça no instante do dolo. Porthos é o
bruto, o mais explosivo, aquele que se mantém firme a qualquer custo
principalmente se sua honra estiver em perigo. Já Aramis é o poeta, o amante e
o padre ao mesmo tempo, ele possui a calma necessária para segurar o ímpeto dos
seus companheiros e o traquejo com a sociedade para conseguir alguns favores. Cada
um dos quatro amigos possui um criado muito fiel e ótimo escudeiro, vale citar
seus nomes pois se tornaram peças importantes nas atividades de seus amos, são
eles Planchet, Grimaud, Mousqueton e Bazin. Em determinado altura do livro é
dito que se fosse possível fundir essas quatro almas, a criatura gerada seria o
lacaio perfeito.
Dentro do
quadro dos pretensos vilões temos o Cardeal Richelieu, um grande estrategista
que se aproveitando do alto posto e o fato de conseguir manipular completamente
o Rei Luis XIII guia uma gama de pessoas para fazer suas armadilhas e sair
ileso, seja contra o Duque de Buckingham ou contra a aia da Rainha ou até mesmo
da própria. Entre seus joguetes encontramos a linda Milady, uma bela dama que
joga com a sedução de seu corpo e de suas palavras. Antes de ler este livro
assisti e ouvi falar da história do quarteto diversas vezes, com seu famoso
grito “um por todos e todos por um” já possuía uma noção de cada um dos
personagens apresentados, mas Milady me surpreendeu. As tramas que ela
engendrou, as pessoas que ela enganou, tudo isso foi me deixando com raiva
dela, mas em determinado ponto da história senti pena, tive piedade para logo
depois o meu nível de ódio atingir um ápice absurdo, para os que conhecem Game
of Thrones, o meu sentimento por ela chegou ao mesmo nível que para com o Rei
Joffrey no final da segunda temporada. Mas eu sou obrigada a confessar, apesar
de tudo, que ela se tornou uma de minhas personagens favoritas.
Após ler 460
páginas desse romance histórico, um clássico da literatura, realmente acredito
que o esforço inicial valeu cada palavra e frase desse livro. Termino a sua
leitura apaixonada pelos lindos cavaleiros do Rei com seus chapéus emplumados e
suas histórias contadas nas tabernas regadas a vinho. A nobreza de Athos, a
pose de Phortos, a poesia de Aramis, a energia de d’Artagnan e até mesmo a
beleza fatal de Milady.
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Foto vindo diretamente do tio Google, mas a encadernação é a mesma da minha cópia. |